PARA SE ENTENDER MELHOR COM A BÍBLIA

Uma multidão incontável poderia dizer “Eu não consigo entender o que leio na Bíblia!”. Outro número imensurável de leitores completariam: “Eu não consigo me entender com a Bíblia!”. Será que esse bestseller histórico está assim tão cheio de enigmas e mistérios? Creio que todos nós precisamos de algumas dicas que servirão como chaves mestras para abrirmos os cofres espirituais que estão nas páginas das Escrituras Sagradas. Não temos a pretensão de nenhum academicismo, mas sim fornecer orientações práticas para todos os leitores da Bíblia, tanto os que frequentam uma comunidade evangélica, como aqueles que a lêem por puro prazer e devoção, sem vínculo denominacional nenhum.

O ponto de partida para entender a Bíblia é ter a cristalina concepção que ela versa sobre um Deus que é pessoal e deseja se relacionar com o ser humano. O Deus da Bíblia não é uma máquina ou força impessoal. Ele é espírito, transcendente da sua criação(Gên. 1:12; II Cron. 6:18; João 4:24). Ele é um ser que pensa, planeja, e sente (Isaías 1: 11-20; Efésios 1:3-23; etc.).

Por outro lado, é correto destacar que o Deus da Bíblia é maior do que o que está registrado em suas páginas, sendo Ele também mais complexo que o ser humano e assim, Ele também é misterioso (está além da nossa total compreensão!). Quando lemos a Bíblia, percebemos que o Criador está além do controle humano e, uma vez que somos sua criação, encontramos na natureza humana pistas para entendermos a Deus. Afinal, fomos criados à sua Imagem e

Semelhança. Sentimentos como Justiça, Ética, Liberdade, Eternidade, Consciência são conceitos abstratos próprios de nossa natureza que, na verdade, remete aos atributos de Deus. Quando lemos as Escrituras, precisamos considerar a natureza do Deus que se revela a nós através de suas páginas.

          Ainda nesse ponto, é importante destacar que Deus se revela na Bíblia, mas nem sempre conseguimos captar, compreender, assimilar e aplicar a sua mensagem às nossas vidas. Então, nós precisamos estudar e entender a Bíblia num nível mais profundo e ao mesmo tempo esclarecedor: as Escrituras possuem duas linhas que formam uma cadeia de compreensão a qual denominamos o princípio das naturezas. Esse princípio consiste no fato de que Deus quer revelar sua natureza a nós, bem como a natureza do ser humano, para assim estabelecer um relacionamento entre essas duas partes, o divino e o humano.

Quando falamos de natureza, referimos à essência constitutiva de um ser ou objeto, sua inclinação natural, as partes que compõem um ser e o definem. Nas Escrituras, Deus está o tempo todo convidando-nos para contemplar a Sua natureza. Notem que a criação revela a natureza de Deus, pois Ele é o seu autor. As ações de Deus intervindo na História do seu povo (Israel e a Sua Igreja) e na história de indivíduos revelam o seu modus operandi , o seu jeito de agir (Ele é salvador, compassivo, perdoador, justo, santo, consolador, poderoso, eterno etc.). E do outro lado da cadeia, temos nas Escrituras Deus nos convocando para descobrirmos mais de nós mesmos. A Bíblia revela o início do pecado e de nossa inclinação para o mal, aponta também para a rebeldia que todos nós nutrimos contra Deus e a mania de querermos ser independentes e autossuficientes!

Na Bíblia também temos o ensino do que poderemos ser quando estamos debaixo da Graça de Deus e sob os cuidados de Cristo Jesus: Ele nos deu vida nova, uma nova natureza, um padrão e alvo a atingir – sermos à imagem de Cristo Jesus! Há uma passagem em Isaías 6 que condensa tudo isso... o profeta vai ao templo e tem uma visão do Trono de Deus, vê o Senhor, ouve os louvores dos anjos sobre a Santidade de Deus e, ao mesmo tempo, sabe de sua situação de indignidade (ele e seu povo são pecadores!). Mas ele é transformado com o toque de uma brasa do altar em sua boca, a qual foi trazida por um anjo e seu pecado foi tirado. O princípio das naturezas fica bem explícito neste texto de Isaías 6.

Em segundo lugar, ao lermos as Escrituras, é fundamental considerar que Deus se revela progressivamente. Ele respeita os limites históricos e culturais dos indivíduos e povos com que quer se relacionar e ajusta a sua mensagem para ser compreendido. Conforme o tempo passa, cria-se uma tradição da Revelação de Deus no decorrer da História que nitidamente progride (por exemplo: o profeta Isaías, no século VII a.C. tinha muito mais informação da Revelação de Deus do que Jacó, no século XII a. C. tinha. Aos lermos a Bíblia, considerando-a no seu desenvolvimento histórico, percebemos que os detalhes da natureza divina, bem como de seu plano de salvação da humanidade cresce e atinge seu apogeu em Cristo Jesus, no Novo Testamento (“O Verbo se fez carne e habitou entre nós...” evangelho de João. Cap. 1, verso 14).

Nesse ponto, destacamos também a relação entre o Velho e o Novo testamento: no primeiro temos promessas, no segundo, temos cumprimentos; no Velho Testamento encontramos a preparação, no Novo, temos a realização; até o texto de Malaquias temos a Velha aliança e o predomínio da Lei mosaica, a partir do texto do evangelho de Mateus, temos a Nova Aliança em Cristo Jesus e o predomínio da Lei do Espírito.
É fundamental para todo leitor das Escrituras Sagradas procurar “transitar” pelas passagens no V.T. e do N.T. simultaneamente, considerando seus contextos específicos, porém focando a visão do todo. É um processo de tear uma tapeçaria: fios bíblicos da época mosaica se cruzam com a época monárquica e ambos se entrelaçam com os fios proféticos (pré e pós-exílio), os quais se amarram no ministério de Jesus e se prendem à mensagem apostólica.

Não podemos ler a Bíblia como um livro histórico apenas. O Deus da Bíblia é o mesmo dos dias atuais. Portanto, ele é um Deus de Justiça e Amor no século XXI, assim como foi tanto no Velho como no Novo Testamento. Atrás de todos os eventos da Bíblia podemos ver o mesmo caráter de Deus. Com todo trecho das Escrituras devemos perguntar: “Como nós vemos a Deus nesta passagem? E também transferir a pergunta para o nosso cotidiano: “Como vejo a Deus nas páginas da minha história pessoal?“ Ou seja, precisamos tornar a leitura das Escrituras uma leitura prática, com propostas relevantes e aplicáveis para a nossa vivência hoje.

Por último, para se entender melhor a Bíblia e também se entender melhor com Deus e consigo mesmo, é muito importante considerar em sua leitura os temas transversais da Bíblia. Ela fala de muitos assuntos, mas há temas que são os seus pontos cardeais. E uma vez identificados e assimilados, poderemos nos localizar melhor e entender os outros temas secundários. Seguem alguns deles que são os principais:
Primeiro tema: existe uma relação pessoal entre Deus e o homem que precisa ser restaurada. Sempre considerando a Revelação de Deus em constante e crescente progresso, podemos resumir e visualizar este relacionamento divino-humano da seguinte forma:
 

Deus com o  Homem	A Separação entre os   Dois	Deus Manda    Mensageiros	Deus Visita   os Homens	Deus Invade     os Homens	Deus        Estará com  Eles
Gên.  2	Gên. 3	Os Profetas	Jesus  Cristo	Atos	Apocalipse

Segundo tema: há um fio de ouro que amarra a Bíblia de ponta à ponta: é a salvação eterna que Deus oferece ao ser humano, através de Cristo Jesus. Fazendo um roteiro resumido do plano da salvação temos o seguinte caminho:
A SALVAÇÃO PROMETIDA NO INÍCIO: GÊN. 3:15;
A SALVAÇÃO PROMETIDA AOS PATRIARCAS EM GÊNESIS;
A SALVAÇÃO DEMONSTRADA NA FIGURA DO TABERNÁCULO EM ÊXODO;
A SALVAÇÃO PROFETIZADA NOS ESCRITOS DO VELHO TESTAMENTO;
A SALVAÇÃO MANIFESTADA: JESUS CRISTO NOS EVANGELHOS DO NOVO TESTAMENTO;
A SALVAÇÃO EXPERIMENTADA NA IGREJA EM ATOS DOS APÓSTOLOS;
A SALVAÇÃO ENSINADA NAS DOUTRINAS DAS CARTAS DO  NOVO TESTAMENTO;
A SALVAÇÃO TOTALMENTE REALIZADA EM APOCALIPSE.

Neste particular, o leitor  cuidadoso da Bíblia irá perceber que a figura central em todas as páginas sagradas é o Ungido de Deus, o Messias, o Salvador do Mundo que terá seu nome exaltado entre as nações: Jesus, o Filho de Deus, o Leão da tribo de Judá. Estudar a Bíblia, procurando descobrir quem é Jesus é um projeto fascinante e inspirador.
A Bíblia não é um livro difícil, mas é desafiador; a Bíblia não é um livro mágico ou de feitiços, mas é um livro que provoca milagres; a Bíblia não é um livro científico, mas é um livro atual e relevante. Leia-o e deixe-se levar pelas suas belas histórias, poesias e profecias. Permita que ela cumpra o seu propósito: ser luz para o seus caminhos! Leia as Escrituras examinando cada passagem. Você verá que elas testificam de Jesus como o Filho de Deus Salvador!